Suplementação Nutricional para bebês e crianças: suplementar ou não, eis a questão.

Não existe resposta absoluta. Isso porque, partindo do princípio onde a criança possui doenças crônicas, muitas vezes levando à uma subnutrição, a suplementação é imprescindível.

Na teoria, crianças “saudáveis” que recebem alimentação adequada não teriam necessidade de suplementação de nutrientes. Porém, tudo depende do local onde a criança vive, alimentos que consome e suas particularidades.

Por exemplo: um bebê que está em aleitamento materno exclusivo, na teoria não necessita de suplementação, porém, a qualidade do leite sofre grande influência da dieta da mãe.

As crianças representam um grupo de risco a carências de micro e macronutrientes em consequência ao ritmo acelerado de crescimento e desenvolvimento, especialmente nos primeiros mil dias de vida, que incluem o período da gestação até o segundo ano de vida.

O pico do desenvolvimento cerebral acontece a partir do terceiro trimestre de gestação até os dois anos de vida. No primeiro ano, o cérebro ganha de 350-700 gramas, o que representa 25-50% do peso adulto. No segundo ano, o ganho está entre 700-950 gramas – 50-68% do peso adulto.

Tal crescimento cerebral se faz às custas de uma intensa neurogênese, acompanhada de dois processos chaves no neurodesenvolvimento: a mielinização e a sinaptogênese, com uma média de 700 sinapses por segundo

Esse período crítico do neurodesenvolvimento é dependente da oferta de nutrientes específicos, cuja deficiência pode afetar a habilidade cognitiva e aumentar o risco para a ocorrência de doenças crônico-degenerativas em longo prazo, a chamada programação metabólica. Intervenções nesse período são fundamentais para garantir a oferta nutricional ideal para uma vida saudável e produtiva.

Leite materno: a base da vida saudável

É consenso mundial que o aleitamento materno é uma forma inigualável de prover nutrição ideal para o crescimento e desenvolvimento.

Essa é a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): da sala de parto aos dois anos de vida (ou mais), exclusivo nos primeiros seis meses; após, se inicia a alimentação complementar.

Suplementação de vitaminas e minerais

As vitaminas A e D, mineiras como ferro, iodo e zinco são as mais suscetíveis de carências, é considerado como alto impacto social, na qual a OMS priorizada em todo o mundo. Além disso, um macronutriente denominado como DHA (Ácido Docosahexaenoico) passou a ser considerado à nível de saúde pública, pois a deficiência desse vital macronutriente afeta o neurodesenvolvimento infantil.

Vitaminas A e D

A vitamina D está envolvida na regulação de mais de 1.000 genes, e sua deficiência está relacionada com o desenvolvimento de diabetes tipo 1, asma, dermatite atópica, alergia alimentar, doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, doença cardiovascular, esquizofrenia, depressão e variadas neoplasias (mama, próstata, pâncreas, cólon).

A dose preventiva universal de vitamina D é de 400UI para lactentes de 0-12 meses e 600UI para maiores de 1 ano, mas a Academia Americana de Pediatria vem discutindo sobre a individualização das doses.

Segundo a SPSP (2019), a recomendação de vitamina A é que seja feita isoladamente, para que possamos denominar a dose. Em regiões onde é comprovado a deficiência de vitamina A, o Ministério da Saúde recomenda a suplementação com a utilização da megadose única para crianças 6-12 meses, de 100.000UI, e para crianças de 12-72 meses, 200.000UI.

Ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa

Os ácidos graxos (AG) são constituintes estruturais das membranas celulares, além disso possuem funções energéticas e metabólicas. Os ácidos graxos essenciais (AG) ômega 3 e ômega 6 são considerados precursores dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa: Ácido Araquidônico (AA), Ácido Eicosapentaenoico (EPA) e Ácido Docosahexaenoico (DHA).

O DHA oriundo da série ômega 3 é considerado o AG mais importante no desenvolvimento cerebral e da visão. Cerca de 50-60% do peso seco do cérebro é composto por lipídios, o DHA responde por 15% de todos ácidos graxos do córtex frontal (responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoções).

Apesar do ácido alfa-linolênico (ômega-3) ser convertido em EPA e DHA no ser humano, não se sabe ao certo qual porcentagem realmente é convertida – estima-se que seja baixa, da ordem de 5% para o EPA e 0,5% para o DHA.

Crianças, por imaturidade enzimática, não conseguem converter todo DHA necessário ao seu neurodesenvolvimento a partir do ácido alfa linolênico, destacando-se a importância de fornecer o suporte nutricional medido em DHA (produto final) não em ômega -3 (produto inicial da cadeia enzimática).

O Consenso Brasileiro da Associação Brasileira de Nutrologia fala sobre recomendações de DHA durante a gestação, lactação e infância, e recomenda a suplementação de 200mg de DHA ao dia para gestantes, lactantes, independente da dieta.

Crianças não amamentadas devem receber DHA através de sua fonte láctea complementar, caso contrário, suplementar o DHA isoladamente.

Ferro

A anemia por carência de ferro é a mais comum das carências nutricionais, principalmente em países em desenvolvimento. Aquelas com idade entre 6-24 meses apresentam risco duas vezes maior para desenvolver a doença do que aquelas entre 25- 60 meses.

Considerada um sério problema de saúde pública, a anemia pode prejudicar o desenvolvimento mental e psicomotor, causar aumento de morbidade e mortalidade materna e infantil, além da queda no desempenho do indivíduo no trabalho e redução da resistência às infecções.

As novas recomendações da SBP indicam a suplementação preventiva para recém-nascido de termo, de peso adequado para a idade gestacional, de 1mg de ferro elementar/kg de peso/dia, a partir do 6° mês (independentemente se em aleitamento materno exclusivo, misto ou somente fórmula infantil) até o 24° mês de vida.

Mas cuidado, crianças com altos níveis de ferro no organismo podem apresentar alterações no estômago, constipação e fezes escuras.

A Academia Americana de Pediatria recomenda, aos 12 meses de idade, uma triagem para deficiência de ferro sem anemia (dosagem de ferritina) e deficiência de ferro com anemia (hemograma); caso se constate deficiência, o tratamento é realizado com 3-5mg de ferro elementar/kg de peso/dia.

Zinco

Nutriente de grande importância para o organismo, particularmente para o sistema imunológico, possui funções como desenvolvimento cognitivo, crescimento, reparação tissular e replicação celular.

A dosagem sérica de zinco não reflete com segurança o real estado nutricional com relação ao mineral. A prova terapêutica pode ser realizada utilizando-se o zinco na dosagem de 1 mg/kg/dia e observando-se a resposta clínica em 5-10 dias de uso.

No tratamento da carência, utiliza-se a dose de zinco elementar, 1-2mg/kg/dia por via oral e correção dietética adequada; na diarreia aguda se prescreve 20mg/dia para crianças acima de seis meses de idade e metade da dose para aquelas abaixo dessa idade

Procure um profissional para acompanhar a saúde do seu filho e suplementação na dose necessária de acordo com a necessidade individual da criança.

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